domingo, 29 de janeiro de 2017

Páthos

substantivo masculino

Palavra de origem grega, que em sua essência emite sentidos que vão além das palavras de significância presentes nos dicionários, diz-se a representação do verdadeiro sentimento ao vislumbrar uma 'obra de arte', atingindo a mais íntima das relações em conexão de grau elevado para com o que está sendo visto e sentido. Está designada ao que fazemos, e que novamente vem a acontecer, direcionando-nos ao padecer do acontecimento de forma trágica, pode-se dizer que isso seria causado pelo repertório do observador e também por sua paixão. 

Páthos seria a profunda conexão afetiva com um ser/objeto, que por sua vez nos torna seres pateticamente passivos, nos assujeitando a tudo relacionado aquela notória imagem. A paixão por si só quando sentida num primeiro momento de relação de forma saudável, é bela, acalante, contudo, quando em excesso de forma exagerada o ser passa a ter necessidade da pessoa, e demonstra níveis elevados de dependência, e em seus níveis mais extremos passa a ter comportamentos obsessivos para com sua paixão. O coração sai de sua caixa torácica, o êxtase o domina, uma paixão visceral, excessiva, catastrófica, que está além da admiração, é quase que uma obra Barroca, e seus exageros na expressividade estética, uma paixão que "estimula o sentimento de piedade ou a tristeza; poder de tocar o sentimento da melancolia ou o da ternura; caráter ou influência tocante ou patética" desprovida de controle.

Pessoas que apresentam comportamentos compulsivos e obsessivos assustam, suas atitudes podem ser facilmente confundidas como explosões de raiva, contudo o desespero o leva a exagerar em seus atos, o exagero leva ao exagero e a uma infindável maré de desencontros e acontecimentos desastrosos. A situação que seria algo simples de resolver com apenas uma dose de atenção, torna-se caótica, mas como qualquer outra patologia, a paixão necessita atenção, de nada resolve o ser fugir ou fazer que esqueceu, precisa olhar pra si, e neste momento o auxílio de seus mais próximos amigos é crucial para sua recuperação.

Neste caso, em primeiro momento uma conversa clara entre as partes poderia amenizar todo um desconforto, sentimentos nos arrebatam de forma extrema e acabam por desestruturar nossa realidade e nossa sanidade, porém, se já aconteceram conversas que aparentemente em nada auxiliaram, talvez a melhor solução seria o distanciamento, um espaço para que possam refletir, acertado por ambas as partes, afim de curar-se desta exagerada conexão afetiva, dar tempo ao coração de ambos, respirar, recuperar-se das mágoas causadas por sentimentos idealizados, cobertos por expectativas e frustrações.

Neste sentido olhando para minha situação com o querido amigo, vejo que não é que eu seja desequilibrado, estou desequilibrado emocionalmente, não é que eu seja burro, estou doente, sei que a intenção não foi me ferir em momento algum, as minhas intenções também não eram essas, não é que eu não queira escutar, como posso escutar quando meus ouvidos estão tapados por uma ilusão? me sinto incompreendido, não é que eu goste de me iludir nem de gostar de quem não gosta de mim, eu simplesmente amei verdadeiramente, e este sentimento se transformou, não quero me sabotar, não quero o meu mau nem o mau de ninguém.

"Talvez todos os dragões de nossa vida sejam princesas que aguardam apenas o momento de nos ver um dia belos e corajosos. Talvez todo horror em última análise, não passe de um desamparo que implora o nosso auxílio." RILKE


Nenhum comentário:

Postar um comentário