segunda-feira, 13 de novembro de 2017

APRENDENDO A IMPORTÂNCIA DO RECOLHIMENTO TEMPORÁRIO



O 4 de Espadas como arcano de aconselhamento sugere que é aconselhável, ao menos por um tempo, que você assuma a importância de ficar na sua, ao invés de procurar companhia demais e entupir seu tempo com afazeres fúteis ou atividades sociais desnecessárias. Compreenda esta parada em sua vida não como paralisia, mas como um processo necessário ao seu desenvolvimento. Não force a barra, Jeff! Há tempo para se divertir e tempo para a quietude, mas este momento demanda maior reflexão e meditação de sua parte. Busque um centro de tranqüilidade e evite afazeres excessivos que dispersam seu foco. Se possível, converse com alguém mais próximo sobre as coisas que lhe incomodam, pois a partir do diálogo tranquilo você perceberá que muitas das coisas que você deseja mudar nos outros precisam primeiramente ser mudadas dentro de si!


Conselho: Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, acorda.

Torre com 8 de Copas: Falta estrutura, iniciativa e criatividade neste relacionamento. A cobrança e os desejos só levam à falta de confiança e frustram as expectativas.  Para uma verdadeira harmonia, deve ser respeitada a vontade do outro e observar que os problemas podem ser resolvidos de várias maneiras, que existem várias alternativas e não uma só direção. A ajuda e a flexibilidade mútua são necessárias e elevam nossa alma. 

domingo, 12 de novembro de 2017

não sei se sinto caimbras
ou se o que sinto é remorso
ontem senti culpa, a duas horas atrás um sono descomunal, agora sinto fome e daqui a poucos segundos sentirei saudade.
aquele inseto estava livre, solto na sua imensidão, ou preso a ela, quem sabe, mas por um tris caiu com todo seu peso sobre o chão, vocês ouviram com certeza, foi um estrondo enorme, todo mundo ouviu. Quem não ouviu, estava desconectado daquele pedaço de chão, aquele que não escutou ia para o lado da certeza, uma certeza de que no mundo não existe nada mais importante do que ele mesmo.

E volto a caimbra, ela aconteceu num estampido de segundo. - vocês notaram! Ah, notaram mesmo! Impossível não nota-la parecia que as patinhas timidas do inseto moribundo  se recontorciam, mas embora tenham notado, ali ele continuou, sozinho, uma ou duas mãos passavam perto para aperta-lo, mas nenhuma afagava sua pequena caimbrinha.

Olha só, o remorso voltou ao seu coração de pedra sabão, remorso, daquilo que não disse, do BASTA que deixou de dar para aqueles que o apertavam, remorso por deixar de lembrar que suas patinhas pequenas não poderiam ir mais pelo caminho que ele seguia, o caminho de quem ele seguia. - Ele seguia alguém?

Como posso saber? Ai seria o caso de vossa senhoria perguntar diretamente pro pobre bichinho, ali no canto encolhido, não acha?

Ele segura o coração de pedra sabão em suas mãos, está impossibilitado de traçar rotas muito longas, ou rotas de extrema complexidade, ele precisa do simples. - Mas ele sabe disso? Caramba, eu já disse pra perguntar diretamente pra ele, quem sou eu para falar por um mísero inseto oco, com coração de pedra sabão, caimbra nas patinhas, carregando um remorso dez vezes o seu pequenino imenso tamanho.

Basta, me poupe, deixo este trabalho para os reporteres ou para as vizinhas fofoqueiras, essas sim devem saber tudo sobre a vida desse inseto, mais do que ele próprio sabe sobre si! Visto que notaram o estrondo de sua caimbra, antes mesmo dela acontecer!!!!

quinta-feira, 9 de novembro de 2017


Depois de muito tempo sem escrever por aqui, resolvi colocar as palavras em dia. Nesse dia! Não quero dizer que não estou feliz, mas é que hoje bateu uma tristeza e eu resolvi senti-la. Sabe aqueles dias em que o coração amolece e você para pra pensar demais? Então, não sei o que me trouxe para esse lugar, na verdade até devo saber. 

Mas é difícil aceitar o que seja! Por isso procuro esquecer.

Meu corpo estava parado, recostado sobre o sinaleiro aguardando por carona. Ali pensando em nada, reparei o som de um grupo de amigos cantando Linger do The Cranberryes, e este sentimento que vou chamar de saudade,  brotou instantaneamente em meu ser, foi automático, e eu senti forte a vontade de andar para lugar algum, simplesmente sair, sem destino e não olhar mais tão atentamente para o que vem acontecendo, uma vontade de me desconectar de tudo... 

Mas estou aqui, eu existo, e escrevo esse amontoado de caracteres, cheios de dor e sentimento que chega a grudar, cheira saudades de um tempo que não existiu.

um afago imaginário...

Como banhar em uma piscina cheia de pedras, ou até mesmo, comer um prato de areia. Pego na mão de quem? Quem caminha ao meu lado? Cozinho para quem? Meu eu não me basta, meu sentimento transborda, incha, preenche tudo menos: eu mesmo!

Me sinto um copo vazio, cheio de ar...

terça-feira, 29 de agosto de 2017

O Som do Remador

Olha para os lados, balança seus olhinhos freneticamente, mas naquele barco só um remo rasga as águas,
rema, rema, rema,
desenhando no mar circunferências exatas que e(s)coam feito água em ralo de pia.

(O remo soa)

Uma batalha que não se trava sozinho,
dança de duplas em movimentos seguidos de um com o outro. 

(...mas e o outro?)

Soa mais, e mais...
jatos de água
escorrem por sua madeira de lei,
quanta responsabilidade remar sozinho.

Dançar e dançar sem sair do lugar,
piruletas seguidas,
num mesmo sentido,
até c
          a
             i
                   r...

no som do remador. 


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grato Loraine Miranda
💚

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

cartas - oitava








essa é uma carta em branco








sigo
(quase)
 seguro 
 do 
 amor 
 que 
sinto

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Essa é a história de uma garotinha, ela colecionava as pessoas que dizia amar em potinhos de vidro fechados para protege-las das más influências da vida, e de tudo que há de ruim... Um dia, um terrível acidente acontece, e seu potinho favorito escorrega de suas mãos, cai no chão a se estilhaçar, a garotinha observa com uma pitada de dor, todos aqueles pedacinhos de amor guardados com tanto carinho voarem pela sala de sua casa, iluminando-a com luzes coloridas, cada uma brilhando em sua essência. Encantada com suas cores, rapidamente ela se põe a abrir todos os potinhos e deixar que a sala branca e sem graça se transforme num lugar colorido e brilhante.




Vivas os potinhos vazios!



Penso que em uma viagem ao desconhecido, eu sou a dúvida, criando na minha mente situações do: "se" aos "por quês". Tento me livrar dessas inseguranças que me assolam, almejo coragem para com os desejos da carne e firmeza para com as necessidades da alma, mas preciso de certezas, que não encontro.




Na disciplina da atitude e da intensão eu sou kōhai, tentando dessa vez, e de novo, e de novo renovar meu caís, o porto seguro acho que encontrei, mas tenho atracado lentamente para que o mar permaneça tranquilo e não se desespere com os meus movimentos, pois o balanço brusco das ondas podem me impedir de unhar a âncora no fundo da vaza. 

O desejo que sinto pelo meu amado é um oceano profundo e incerto, e ao mesmo tempo certo como o farol do porto, uma dualidade que me faz fraquejar nos momentos em que estamos a sós. O corpo, curvas, dobras, líquidos e veios me deixam em estado de inércia, como imãs se entrelaçam no mundo das ideias, mas no mundo "real", insistem em ficar de lados opostos, busco formas para reverter este cenário, me perco em viagens temporais, faço fendas no destino, e traço alguns descomeços, para assim começar de novo.


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domingo, 25 de junho de 2017

Sobre erros






            


                                   a
                                     c
                                       e
                                          i
                                             t
                                                a
                                                   r


                                                         o
       

                                                                    i
                                                                    n
                                                                    e
                                                                    v
                                                                    i
                                                                     t
                                                                    á
                                                                    v
                                                                    e
                                                                     l








sexta-feira, 12 de maio de 2017

uma mensagem sutil


Tenho percebido como é difícil conversar comigo, acho que não estou pronto para ouvir, me sinto atacado com frequência, cada coisa que digo me causa dor. Tento pensar leve e prestar bem atenção ao meu redor. 

ver a vida com os olhos de uma criança como disse Goethe, caminhar e dar as mãos aos meus irmãos, lugar onde o medo não entra, onde eu possa transpirar sem amarras. Tenho sentido cada vez mais dificuldade em viver nesse mundo de disputas e ofensas, defesas e virtudes, máscaras e perfumes artificiais. 

Quero nunca me esquecer da magnitude que é apreciar o céu! 

Experimente parar o que estiver fazendo e olhe para o céu, mas olhe com olhos de criança, viva o céu, sinta o céu, cada ranhura, tom por tom do anil, som do som do som da dança de vida que há. 

Ser o céu, ser o sol, a chuva e também a neblina!

domingo, 23 de abril de 2017

livre, em linhas curvas
sinuosas barganhas
de farfalhar eufórico
branca e lisa
não saia da linha
planície laqueada
aguada, escorregadia
planície laqueada
ferro fundido nas narinas
um tiro e guitarras amarelas
sucessivas cores
cabelos, tambores
estático no metro,
encharcados
de desprezo
balança, balança
desça à sua direita
fitando o piso
suba as escadas
fitando o piso
rode a catraca
fitando o piso
da planície laqueada
branca e lisa
branca e lisa



sexta-feira, 21 de abril de 2017


triste
a caixinha
um punhal
que gira
incessante

o acalanto,
cresceu
floresceu e...
murchou!
rasgado, queimado, 
enterrado, acimentado

MATEI 

a sangue frio
aqui jaz.
ralei sua face
até estranhar
tirei sua pele, tela
de suas visceras, assemblagem
o sangue, tinta
olhos, colares

seus tufos
em amônia
num potinho
o perfume

livrei me
livre
livr
liv
live

terça-feira, 18 de abril de 2017

"os seres habitam a grama
metralham as borboletas em suas crisalidas
o fluído multicolorido ampara suas perdas
encontro o amor realizado
ao mesmo tempo reproduzem a mistura do ódio
ejaculando incertezas num cubo a transpirar"

Part. Gabriel Daniel e Gi Marti

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Sua entradinha era pequena, mas sofisticada,  revestida com papel de parede adornado em formas geométricas pintadas em diferentes tons de cinza, apertados em si, num padrão que se repetia ao discorrer da parede central. Nas laterais, a da esquerda estava preenchida por um vermelho sangue, que parecia vibrar de tão intenso, noutro oposto lembrava um céu noturno sem lua e sem estrelas, quebrando toda aquela palidez cinza da parede central.

A pequena porta de entrada em que parei para observar as paredes lembrou-me cafés no bom estilo inglês, com vidraças quadriculadas e uma pequena escadinha em "L" que levava adentro. O piso era discreto, que nem reparei tanto. A bilheteria era simples e ao seu lado estava instalado um simpático bar, com destaque para a geladeira que era daquelas arredondadas num estilo bem vintage, antiga e vermelha, contrastando com o enegrecer da parede. Naquele curto momento eu era Gustavo, pois meu nome não estava na lista. Isso me deu uma leve tensão em meu pescoço. Se passar por outra pessoa é complicado para alguém, que não sabe mentir.

Entramos, era um picadeiro pequenino, mas aconchegante, ali cabiam no máximo 20 pessoas, era de fato um lugar para poucos, porém, receptível a qualquer um. O espetáculo de hipnose não me surpreendeu tanto, contudo me tirou boas risadas. O que mais me chamou a atenção estava escondido, instalado por de trás das cortinas do palco. Entrar nele era como estar num darkroom, incrível o misticismo que uma cortina pode trazer, ideias eróticas brotavam de meu imaginário, fui longe e custei voltar daquele ambiente em tons escuros onde o destaque estava em pequeninos quadrinhos na parede com molduras barrocas, laqueadas em tons de amarelo, vermelho e azul. Não traziam fotos, mas a estampa do mesmo papel de parede cinza da entrada, ali fiquei um considerável tempo observando, em detalhes.

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quinta-feira, 30 de março de 2017


sutilezas e indagações
no extremo ínfimo 
da margem de águas 
do rio mais turvo 
na costa diamante

nu, deitado no vazio cubículo
suas mãos se movimentam,
só, os olhos giram
palavras voam para lugar algum
e o gozo, também, sem direção
vai

soou feito um alarme
que pisca e entoa 
de forma incisiva e grotesca 
o que vem de dentro
clama atenção

coitado, ó libertino
surfando nas ondas da rede
perplexas relações intocáveis
tão frias quanto um bloco de gelo
mais vazias que um copo de vidro
de boca virada para baixo



sábado, 25 de março de 2017

um pássaro quebrado


não estou mais ali
na sombra do que ficou
não pousa
a harmônia enfim só
fez-se muda


riscou as paredes
com sangue, com sede
no peso de suas horas
a fio, solidão


jaz ali escondido
ó sede...
desabrigado, voou 
com ventos de amargura
e no corredor?


vazio
vazi
vaz
va
v

terça-feira, 14 de março de 2017

A menina de olhos amendoados

Fria como a noite, sua pele quase azulada refletia a luz branca do ambiente, em seu calcanhar direito carregava um fitilho com listras rosas e azuis preso num laço. Em seus pés, duas sapatilhas transparentes modeladas de forma cuidadosa em plástico fino. A menina tinha um rosto ovalado, o nariz como uma seta apontava ao horizonte, seus lábios rosados e tímidos escondiam um sorriso extravagante em tons de marfim, mostrando caninos que lembravam os de um vampiro Romeno.


Avantajadas e com marquinhas avermelhadas, ela tinha duas grandes maçãs no lugar de suas bochechas, as sobrancelhas quase que eram uma só, a não ser por uma pequenina fenda que as separavam. Vestia amarelo rendado, um vestidinho que mais lembrava um balão, sem meias, nem presilhas em seus cabelos, que por sua vez eram escorridos e em grossos fios negros esverdeados.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Queima na chuva
das águas acidas interferidas
os pelos acesos, eretos feito pau

Permeia o percurso da água quente
aquecida em calor natural

Cenário chiaroscuro 
Uivos excitados ao luar
os pelos balançam sobre a
pele áspera de um lobo raivoso

Quando falo do lobo
falo de minha carne
pedaço de minh'alma,
falo, um trecho
que vive em mim
em sinuosas veias cheias de sangue

A volúpia é inserida em carne rosada
cintila o arco de pedras macias
e num lampejo
percevejos são expelidos
ejaculados como se não devessem estar ali
estão ali,
na boca aberta do forno flamejante
de intenso calor que vibra

É sentido, um fraquejar de pernas
aquele corpo comoveu-se aos braços do lobo
ruidosas patas em exaltados movimentos
percorrem costas com suas garras,
dentes penetram as vísceras
como se procurassem o caminho do átrio

esvaiu a chuva,
a água quente secou,
e no azul, aquela carne adormece
alheio e sereno


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Cachoeiras de água salgada brotavam do rapaz invisível, esteve tentado por ela, e nesse mar de infindáveis entorpecentes da mente, agiu cobrando coisas que não deveria, tentou lhe dar e queria receber algo que não estava ao alcance de ambos, paralelamente frágil e forte.
Noites mal dormidas, olhos acesos até raiar o sol, anotou em seu caderninho com capa de couro sintético cinza escuro coisas que disse, coisas que ouviu também O desgostar, está ensinando-o gostar de si, ele tem tentado, ó perdão.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

matéria líquida 01

"[...] Tudo interstícios,
Tudo aproximações,
Tudo função do irregular e do absurdo,
Tudo nada... [...]"

o grão que pisa já é outro, no instante em que foi pisado, o suor que cai já tem outros sais, aquele canto nunca mais será o mesmo, mesmo assim parecendo, de forma generalizada, ser. Aquele cheiro, a mesma cor, aquela água, a mesma flor, aquele pé de manga ali, até mesmo aquela praça boa de repousar, em baixo da árvore, em baixo do ar, o ar: comprimir, soprar, sentir, respirar: mudou de lugar!




terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Há alguém a minha frente, com ele diferente. Profere à um, maçãs, ao outro, peras. Perde-se em suas lonjuras e baralha seus pensamentos num mundo inventado de seu ser, hostil e voraz. No fundo sabe de sua imperfeição, se esconde por trás de suas máscaras em porcelana fria, criando universos e encalhes.
Não soube disfarçar seu desassossego, entregou suas ações apenas em respirar seu olhar de culpa. Prendeu-se a esta conjuntura, por fitas de seda púrpura em laço. Caminhou, riu, gargalhou de um, enquanto o outro a esperava, e assim por diante seguiu com suas caras de arenito polido, pintado de diamantes.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

"Uma raiz muito funda no design, suas figuras são arredondadas e agradáveis, mesmo quando a mensagem por trás do sorriso seja amarga. A enorme profusão de curvas em meio a poucas retas reforça seu temperamento delicado e suas cores naturais e brilhantes revelam não somente seu apreço pela natureza mas o desejo de colorir e fazer brilhar sua natureza intrínseca, composta, antes de tons formais. Seu interesse pelo manual e extroversão são refletidos nas obras que versam com costura e colagem, que se desdobram como móbiles e cabides, convidando a entrar e olhar. Mesmo assim, algumas ainda carregam lastros visíveis de angústia, seja na escolha de tons ou no próprio tema." - Guilheme Massau











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aquele moço ali...

Aparentava ter seus vinte e poucos anos, de olhar ligeiro a brilhar feito estrela no céu límpido da noite, riso doce mas que também apresentava um certo desconsolo. Chegou sorrateiro, aos poucos aproximou-se do rapaz invisível, o olhava com interesse e uma certa curiosidade. O rapaz invisível, hesitou, esqueceu-se como era ter alguém interessado nele, se sentia eufórico e ao mesmo tempo receoso, lembrara que não se achava uma pessoa interessante. A mesmice de seus dias e seus insólitos comportamentos diante dos outros o cansavam. Irritara-se ao evocar de suas lembranças a forma com que engole os alimentos, como se eles fossem fugir de seu prato. Espelho pra ele era como a morte, evitava olhar para não se lamuriar. Dessa maneira como poderia imaginar que alguém se interessaria por um cara assim, incomum, de aparência estranha, que come depressa, é ansioso e impulsivo?


O mundo o levara ao fundo do poço, sua auto estima nem existia. De bom coração ele procurava por um homem que fosse seu amigo, um companheiro, confidente, não necessariamente um parceiro sexual, mas alguém que levasse sua cabeça ao colo, e acariciasse seus cabelos sem pretensão erótica, apenas por dar carinho, um afago de amigo. Sentia-se incompreendido, queria uma mão macia com os dedos entrelaçados aos seus. Contudo, não aceitava a ideia de alguém o querer por perto, mesmo desejando em seu mais profundo que alguém o fizesse.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017


"Ela amava o céu. Era a coisa mais infinita que ela conheceu" 

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Imagem por Sara Mandolini
... e naquele instante ao vislumbrar o céu, um pedacinho de seu coração vibrou, voltas e voltas davam seu estômago em uma sinfonia bem engraçada, assim como ao mesmo tempo seus pés davam discretos pulinhos, almejando o momento em que iriam finalmente desgrudar do chão, e se atirar em tamanha imensidão. Andou para lá e para cá caçando ideias pelo ar, de repente olhou para a pequenina mesa de jatobá que estava a alguns passos de distância, pegou uns pedaços de papel que ali repousavam, e pois-se estirada ao chão planejando sua mais recente ideia: criar um par de asas. Desenhou um par de asas com carvão sobre o papel, esculpiu em argila, usou tinta óleo sobre papelão rasgado,  e até de garrafa pet ela tentou, mas nenhuma daquelas asas a permitiam voar do jeito que desejara. 

Num fim de tarde de céu bem límpido, que apresentava um espetáculo de nuvens multicoloridas ao horizonte, algumas manchas amareladas, e outras pinceladas de um violeta sútil, estivera deitada com alguns bons amigos sobre uma rocha a beira de um despenhadeiro, e quebrando o silêncio a bela irmã do seu amigo com seus cabelos roxos e uma aura mística, disse: 
- ei! experimente deitar de cabeça para baixo aqui sobre a roxa, você irá se surpreender. Num salto, deitou-se sobre a roxa, mas com medo de cair barranco a baixo segurou bem forte nas mãos de seus amigos, inclinou sua nuca e abriu bem seus olhos, parecia-lhe que o céu era todo seu, teve a infinita sensação de paz sobre tamanha grandiosidade invertida  sob seu corpo, veio-lhe em certo momento uma vertigem, sentia o tamanho de sua insignificância perante resplandecente grandiosidade. Pôde então perceber que suas asas não eram tangíveis nem perceptíveis aos olhos, mas não lhe restava dúvidas de que elas a levariam mais longe do que  poderia imaginar, continuou fitando o céu ao contrário, e sentia que aquela era a verdadeira posição do céu, toda aquela imensidão se tornara maior ainda, se perguntava se era possível uma imensidão, ser mais imensa do que já é, e toda aquele cenário petrificante dava-lhe uma única resposta. 

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terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

esperança azul em papel

esperança azul em papel

O vento tocava em seu rosto como água em pedra a beira do abismo, suas madeixas tilintavam em pequenos fios expostos a luz de sol leve que o acompanhava. O aroma dos pés de dama da noite o preenchiam de lembranças, estava ali mas também estava naquela manhã de domingo, com a cara amassada, deitado no chão daquele humilde e aconchegante palacete de seu querido amigo, seu coração nunca estivera tão preenchido de amor e de um singelo desejo como naquele momento, porém, deixou escapar um triste sorriso de seus lábios, aquela memória o fara despertar em seu peito borboletas feridas, impossibilitas de alçar voo neste momento, com o olhar voltado para a calçada escura, num relance de minuto fitou a sua frente uma menininha sorridente, ela dava gostosas risadas e se divertia sozinha com aquele pedaço de papel em algumas dobras, ela tomou pose, e o arremessou, liberto feito um passarinho indo paralelo ao vento, a dobradura foi ao encontro do rapaz de sorriso triste, que poderia ter desviado, mas deixou que aquela nave mágica de uma pequena criança o tocasse, ainda estava transitando sua presença de um lugar preso ao passado para aquele instante, e neste momento a dobradura bateu em seu peito e caiu sem forças sobre seus pés, a mãe daquela jovem menininha, desesperada, se desculpava freneticamente como se o ato daquela criança fosse um crime, a menininha ficou com os olhos bem abertos e assustados, com medo do que vinha pela frente, mas rapidamente o rapaz abaixou-se, direcionou suas mãos repletas de calos levemente ao chão, pegou aquela esperança azul em suas mãos, e a atirou nas mãos da menininha, o tempo congelara, a menininha vagarosamente mostrava seus dentes, demonstrando um certo alivio e ao mesmo tempo uma alegria inesperada, pegou o aviãozinho no ar, e aos pulos cantarolou:

- Peguei, peguei, peguei mãe! Seu olhar fixo no rapaz, que seguiu seu caminho, deixando para trás aquela luzinha contente com o simples, a mãe silenciou, e naquele momento delicado os três aprenderam uma valiosa lição.






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domingo, 12 de fevereiro de 2017

Eu vi um anjo hoje, ele não tinha nome, nem face, carregava algo em sua sacola florida que fazia um volume considerável, mas parecia um tanto quanto leve demais, então perguntei:
- o que levas contigo? Ele olhou em meus olhos tão profundamente a ponto de me deixar sem graça, e disse:
- Levo minha culpa, ela ocupa bastante espaço mas não é algo que merece a exacerbada importância que dou, a cada dia ela fica mais leve, pois a cada dia, eu me perdoo um pouquinho mais, porém, não entendo o fato de que mesmo estando mais leve ela permanece do mesmo tamanho.



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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

MARVIM - IV - TRÊS TRAVESSEIROS


Outra dose de impaciência permeava a aula de história da arte, pessoas se trucidavam, numa doce disputinha de: quem aparece mais no grito, ele ou ele? Num lampejo de tempo outra mulher fora silenciada, RIP. Sonoros gritos  abruptamente o arrancavam de sua leitura, desviava Marvim dos anjos,  demônios e Valkirias ali descritos em longínquas páginas de um livro. Em seguida o odor proveniente do escapamento de um caminhão fez arder seu cérebro, descia montado em sua vassoura o principal acesso para a faculdade a cento e cinquenta quilômetros por hora. Chegou em casa, tomou um banho frio, colocou uma roupa confortável (ele prefere as bermudas de elástico frouxo, pois não o apertam), com os pés descalços, vislumbrou sua cama meio desarrumada, ali havia pousado três montinhos tímidos do mais rígido ao mais maleável, um deles estava preso entre o estrado e a parede, bem no canto. Sem pestanejar amassou suas reclamações, depositando-as em envelopes dourados, devidamente lacrados com fitas de cetim em laço, e ali deixou uma por uma esquecida dentro das fronhas. Isso lhe fez bem, sentiu-se protegido e confortável, num suave cheiro de roupa limpa, adormeceu acolhido por seus três travesseiros.

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domingo, 5 de fevereiro de 2017

dessaturar

DESSATURAR

Foi como girar incessantemente após o almoço, ouvir uma música triste e lenta e não ter mais lágrimas para dar uma choradinha. O zoom out de nossas vidas pois-se ao trabalho, lentamente, distancia e esmaece meus olhos, dia-a-dia a vista fica turva, seus belos cachos enegrecem sem contraste com o breu de meus tortuosos pensamentos. 

Sua voz ecoa ao fundo de meu nervo auditivo, já quase que não reconheço, soa distorcida, breve, esquecida. Estavas por de trás, mudo, carregando um livro em seus braços, defronte caminhando em minha direção, entortou meu pescoço, fitou o chão - como quem observava em longínquos pensamentos, petrificou suas duas jabuticabas em mimraio laser que transpassa minhas vísceras, entortando minhas memórias, bagunçando meus sentidos. 
Calei, fiquei sem fala, gaguejei, quase que não sai: ...idade, ci..., ...ida, e finalmente... cidade!






sábado, 4 de fevereiro de 2017

shampoo jaborandi


Shampoo Jaborandi


O dia soou um tanto quanto menos cortante, no coração tardio afrouxou a perfuradora tesoura, encontrava-se a alguns milímetros da beira do átrio direito, onde sangue pobre em oxigênio passava, venoso, viscoso. Submersão, em suas inseguranças os olhinhos vibram desorientados, existe um globo de vidro ao redor da cabeça, rosqueado nas entranhas, prendendo a respiração do grito de alguém, enturvece sua visão, torna os lábios carnudos e rosados da primeira pessoa, brancos e secos, a voar em inconstantes farfalhar, falhar, falar, e o globo aperta como um prendedor segura as roupas no varal que desejam voar com o vento, mas não saem do lugar, as palavras presas ecoam apenas naquele espaço circular de vidro cada vez menor, que por uma simples rachadura, um rasgo em seus meios, em caquinhos transforma sua matéria, vira areia, pó. Dez metros de tecido liso e roxo, por favor, e as fitas enfeitam seus cachos, perfumados com jaborandi, em suas vibrantes cores de serenidade, cascalhos, castanhos fios libertos, ainda sujos pela areia do que foi um globo.



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LAÇOS E PUNHAIS
Lya Luft

Certa vez errei uma tecla do computador, e em lugar de perdas saiu peras.
Eu ia corrigir, mas li de novo, achei muito mais bonito e deixei assim. Ninguém reclamou, nem os revisores. Quem sabe um dos que estudam minha obra, preparando com a maior gravidade sua dissertação ou tese, pare, pense, morda a ponta da caneta ou fique olhando o computador, perplexo. Para depois discorrer filosoficamente sobre aquelas frutas perdidas num texto que nada tinha a ver com elas. Dessa maneira acontecem mal-entendidos: amizades se perturbam, amores se rompem, pessoas se desencontram e magoam.

- Mas você tinha dito peras!
- Não, eu falei perdas.
- Peras...
- Perdas...

Perdeu-se nesse logo inconsistente um pedaço de vida, um brilho de entendimento se apagou.

- Eu ia dizer que você me faz muita falta, mas você entendeu: - Você está em falta... comigo, com a vida, consigo mesmo.

E passamos meia hora evitando nos olhar de frente, nesses momentos o universo esteve em desconserto, e nós desconcertados.Quando eu era menina, certo dia num almoço fiquei observando a família à mesa, e aquelas pessoas tão conhecidas me pareceram umas enormes salsichas com tufos de pelos no alto, bolinhas se mexendo (chamadas olhos ansiosos, tranquilos, amorosos ou hostis) e aquele furo no centro que se abria e fechava emitindo sons. A boca do beijo, do silêncio ou do insulto. As outras salsichas também olhavam com seus botõezinhos de vidro brilhante, viravam-se para os lados, agitavam mãos ou abriam e fechavam seus furinhos-boca respondendo. Palavras esvoaçavam sobre a mesa como bilhetes, sinais de fumaça ou borboletas perdidas. Um falava, outro compreendia e devolvia sinais sonoros. Mas de repente alguém não ouviu direito: os olhinhos ficaram duros, os sons da boca estridentes, ou baixos mas furiosos. Agitação na sala de jantar. Briga em família. Então nem sempre que alguém dizia flor o outro pensava flor? E podia entender pedra? Em lugar de enviar sobre a mesa palavras-borboleta, jogavam palavras-pedra?

Nada era simples. O mundo se desarrumava um pouco por causa desses mal-entendidos. Até ali, para mim palavras eram objetos mágicos: agora via que podiam ser traiçoeiros. Belos de olhar, mas duros, com arestas cortantes, caramelos de vários sabores que eu deixava rolar na boca com delícia, porém a gente podia se engasgar, até morrer. Não era só prazer a linguagem: peras, perdas, fazer falta, estar em falta ou sentir falta. Desacordo, desconserto. Ambivalentes como nós, palavras preparam armadilhas ou abrem portas de sedução. Embalam ou derrubam, enredam em doces laços, ou nos matam dolorosamente como punhais.

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Na obra: Pensar é Transgredir

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017



Quero subir, 
como papel
rasgar a lua de prazer 
soltar estrondoso uivo

sou lobo 
deslizando num perfeito encaixe
suspendo meu corpo ao seu
me ponho a varrer seu suor com minha língua
e como num deslize 

a boca é magneticamente atraída
ao seu rígido sexo
com veios a pulsar
deleito em seu estremecer 

foto: https://t.co/KdculM3OaL
no corpo quente
descomedido,

faço morada
suas mãos com delicadeza

a segurar minha carne
carimba suas digitais em minha pele
o corpo vai com vontade
nas costas descansadas, escorre o gozo

enquanto suas mãos
viajam sobre meu corpo
como um escaner
registrando cada canto

cada pedaço de célula
fio à fio

domingo, 29 de janeiro de 2017

Páthos

substantivo masculino

Palavra de origem grega, que em sua essência emite sentidos que vão além das palavras de significância presentes nos dicionários, diz-se a representação do verdadeiro sentimento ao vislumbrar uma 'obra de arte', atingindo a mais íntima das relações em conexão de grau elevado para com o que está sendo visto e sentido. Está designada ao que fazemos, e que novamente vem a acontecer, direcionando-nos ao padecer do acontecimento de forma trágica, pode-se dizer que isso seria causado pelo repertório do observador e também por sua paixão. 

Páthos seria a profunda conexão afetiva com um ser/objeto, que por sua vez nos torna seres pateticamente passivos, nos assujeitando a tudo relacionado aquela notória imagem. A paixão por si só quando sentida num primeiro momento de relação de forma saudável, é bela, acalante, contudo, quando em excesso de forma exagerada o ser passa a ter necessidade da pessoa, e demonstra níveis elevados de dependência, e em seus níveis mais extremos passa a ter comportamentos obsessivos para com sua paixão. O coração sai de sua caixa torácica, o êxtase o domina, uma paixão visceral, excessiva, catastrófica, que está além da admiração, é quase que uma obra Barroca, e seus exageros na expressividade estética, uma paixão que "estimula o sentimento de piedade ou a tristeza; poder de tocar o sentimento da melancolia ou o da ternura; caráter ou influência tocante ou patética" desprovida de controle.

Pessoas que apresentam comportamentos compulsivos e obsessivos assustam, suas atitudes podem ser facilmente confundidas como explosões de raiva, contudo o desespero o leva a exagerar em seus atos, o exagero leva ao exagero e a uma infindável maré de desencontros e acontecimentos desastrosos. A situação que seria algo simples de resolver com apenas uma dose de atenção, torna-se caótica, mas como qualquer outra patologia, a paixão necessita atenção, de nada resolve o ser fugir ou fazer que esqueceu, precisa olhar pra si, e neste momento o auxílio de seus mais próximos amigos é crucial para sua recuperação.

Neste caso, em primeiro momento uma conversa clara entre as partes poderia amenizar todo um desconforto, sentimentos nos arrebatam de forma extrema e acabam por desestruturar nossa realidade e nossa sanidade, porém, se já aconteceram conversas que aparentemente em nada auxiliaram, talvez a melhor solução seria o distanciamento, um espaço para que possam refletir, acertado por ambas as partes, afim de curar-se desta exagerada conexão afetiva, dar tempo ao coração de ambos, respirar, recuperar-se das mágoas causadas por sentimentos idealizados, cobertos por expectativas e frustrações.

Neste sentido olhando para minha situação com o querido amigo, vejo que não é que eu seja desequilibrado, estou desequilibrado emocionalmente, não é que eu seja burro, estou doente, sei que a intenção não foi me ferir em momento algum, as minhas intenções também não eram essas, não é que eu não queira escutar, como posso escutar quando meus ouvidos estão tapados por uma ilusão? me sinto incompreendido, não é que eu goste de me iludir nem de gostar de quem não gosta de mim, eu simplesmente amei verdadeiramente, e este sentimento se transformou, não quero me sabotar, não quero o meu mau nem o mau de ninguém.

"Talvez todos os dragões de nossa vida sejam princesas que aguardam apenas o momento de nos ver um dia belos e corajosos. Talvez todo horror em última análise, não passe de um desamparo que implora o nosso auxílio." RILKE


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Quem precisa de diploma na escola da vida?




eu quero estar ao sol
quero pular naquela poça
olhar amantes se amando
e sorrir com encanto
por baixo da luz amarela
quero ouvir minha música favorita
curtir o som
enquanto bronzeio minha pele
vou pular na lama
me meter sem temores
rabiscar com tinta a nossa cara
desenhar o céu
em nossas bochechas

quero meu coração amando
amar, é bom
mas ele ainda não soube disso
quero estar com meus pés no mar
ouvindo seu violão tocar
sentir o cheiro bom da areia molhada

dedos entrelaçados
sorrisos à postos
cabelos soltos
e está tudo bem, vamos apenas viver
deixar que as sombras do inverno
desbotem, na luz solar
que chega e aquece
nossos coraçãos.


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