quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

MARVIM - IV - TRÊS TRAVESSEIROS


Outra dose de impaciência permeava a aula de história da arte, pessoas se trucidavam, numa doce disputinha de: quem aparece mais no grito, ele ou ele? Num lampejo de tempo outra mulher fora silenciada, RIP. Sonoros gritos  abruptamente o arrancavam de sua leitura, desviava Marvim dos anjos,  demônios e Valkirias ali descritos em longínquas páginas de um livro. Em seguida o odor proveniente do escapamento de um caminhão fez arder seu cérebro, descia montado em sua vassoura o principal acesso para a faculdade a cento e cinquenta quilômetros por hora. Chegou em casa, tomou um banho frio, colocou uma roupa confortável (ele prefere as bermudas de elástico frouxo, pois não o apertam), com os pés descalços, vislumbrou sua cama meio desarrumada, ali havia pousado três montinhos tímidos do mais rígido ao mais maleável, um deles estava preso entre o estrado e a parede, bem no canto. Sem pestanejar amassou suas reclamações, depositando-as em envelopes dourados, devidamente lacrados com fitas de cetim em laço, e ali deixou uma por uma esquecida dentro das fronhas. Isso lhe fez bem, sentiu-se protegido e confortável, num suave cheiro de roupa limpa, adormeceu acolhido por seus três travesseiros.

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