sábado, 4 de fevereiro de 2017

shampoo jaborandi


Shampoo Jaborandi


O dia soou um tanto quanto menos cortante, no coração tardio afrouxou a perfuradora tesoura, encontrava-se a alguns milímetros da beira do átrio direito, onde sangue pobre em oxigênio passava, venoso, viscoso. Submersão, em suas inseguranças os olhinhos vibram desorientados, existe um globo de vidro ao redor da cabeça, rosqueado nas entranhas, prendendo a respiração do grito de alguém, enturvece sua visão, torna os lábios carnudos e rosados da primeira pessoa, brancos e secos, a voar em inconstantes farfalhar, falhar, falar, e o globo aperta como um prendedor segura as roupas no varal que desejam voar com o vento, mas não saem do lugar, as palavras presas ecoam apenas naquele espaço circular de vidro cada vez menor, que por uma simples rachadura, um rasgo em seus meios, em caquinhos transforma sua matéria, vira areia, pó. Dez metros de tecido liso e roxo, por favor, e as fitas enfeitam seus cachos, perfumados com jaborandi, em suas vibrantes cores de serenidade, cascalhos, castanhos fios libertos, ainda sujos pela areia do que foi um globo.



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