quinta-feira, 30 de março de 2017


sutilezas e indagações
no extremo ínfimo 
da margem de águas 
do rio mais turvo 
na costa diamante

nu, deitado no vazio cubículo
suas mãos se movimentam,
só, os olhos giram
palavras voam para lugar algum
e o gozo, também, sem direção
vai

soou feito um alarme
que pisca e entoa 
de forma incisiva e grotesca 
o que vem de dentro
clama atenção

coitado, ó libertino
surfando nas ondas da rede
perplexas relações intocáveis
tão frias quanto um bloco de gelo
mais vazias que um copo de vidro
de boca virada para baixo



sábado, 25 de março de 2017

um pássaro quebrado


não estou mais ali
na sombra do que ficou
não pousa
a harmônia enfim só
fez-se muda


riscou as paredes
com sangue, com sede
no peso de suas horas
a fio, solidão


jaz ali escondido
ó sede...
desabrigado, voou 
com ventos de amargura
e no corredor?


vazio
vazi
vaz
va
v

terça-feira, 14 de março de 2017

A menina de olhos amendoados

Fria como a noite, sua pele quase azulada refletia a luz branca do ambiente, em seu calcanhar direito carregava um fitilho com listras rosas e azuis preso num laço. Em seus pés, duas sapatilhas transparentes modeladas de forma cuidadosa em plástico fino. A menina tinha um rosto ovalado, o nariz como uma seta apontava ao horizonte, seus lábios rosados e tímidos escondiam um sorriso extravagante em tons de marfim, mostrando caninos que lembravam os de um vampiro Romeno.


Avantajadas e com marquinhas avermelhadas, ela tinha duas grandes maçãs no lugar de suas bochechas, as sobrancelhas quase que eram uma só, a não ser por uma pequenina fenda que as separavam. Vestia amarelo rendado, um vestidinho que mais lembrava um balão, sem meias, nem presilhas em seus cabelos, que por sua vez eram escorridos e em grossos fios negros esverdeados.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Queima na chuva
das águas acidas interferidas
os pelos acesos, eretos feito pau

Permeia o percurso da água quente
aquecida em calor natural

Cenário chiaroscuro 
Uivos excitados ao luar
os pelos balançam sobre a
pele áspera de um lobo raivoso

Quando falo do lobo
falo de minha carne
pedaço de minh'alma,
falo, um trecho
que vive em mim
em sinuosas veias cheias de sangue

A volúpia é inserida em carne rosada
cintila o arco de pedras macias
e num lampejo
percevejos são expelidos
ejaculados como se não devessem estar ali
estão ali,
na boca aberta do forno flamejante
de intenso calor que vibra

É sentido, um fraquejar de pernas
aquele corpo comoveu-se aos braços do lobo
ruidosas patas em exaltados movimentos
percorrem costas com suas garras,
dentes penetram as vísceras
como se procurassem o caminho do átrio

esvaiu a chuva,
a água quente secou,
e no azul, aquela carne adormece
alheio e sereno