não sei se sinto caimbras
ou se o que sinto é remorso
ontem senti culpa, a duas horas atrás um sono descomunal, agora sinto fome e daqui a poucos segundos sentirei saudade.
aquele inseto estava livre, solto na sua imensidão, ou preso a ela, quem sabe, mas por um tris caiu com todo seu peso sobre o chão, vocês ouviram com certeza, foi um estrondo enorme, todo mundo ouviu. Quem não ouviu, estava desconectado daquele pedaço de chão, aquele que não escutou ia para o lado da certeza, uma certeza de que no mundo não existe nada mais importante do que ele mesmo.
E volto a caimbra, ela aconteceu num estampido de segundo. - vocês notaram! Ah, notaram mesmo! Impossível não nota-la parecia que as patinhas timidas do inseto moribundo se recontorciam, mas embora tenham notado, ali ele continuou, sozinho, uma ou duas mãos passavam perto para aperta-lo, mas nenhuma afagava sua pequena caimbrinha.
Olha só, o remorso voltou ao seu coração de pedra sabão, remorso, daquilo que não disse, do BASTA que deixou de dar para aqueles que o apertavam, remorso por deixar de lembrar que suas patinhas pequenas não poderiam ir mais pelo caminho que ele seguia, o caminho de quem ele seguia. - Ele seguia alguém?
Como posso saber? Ai seria o caso de vossa senhoria perguntar diretamente pro pobre bichinho, ali no canto encolhido, não acha?
Ele segura o coração de pedra sabão em suas mãos, está impossibilitado de traçar rotas muito longas, ou rotas de extrema complexidade, ele precisa do simples. - Mas ele sabe disso? Caramba, eu já disse pra perguntar diretamente pra ele, quem sou eu para falar por um mísero inseto oco, com coração de pedra sabão, caimbra nas patinhas, carregando um remorso dez vezes o seu pequenino imenso tamanho.
Basta, me poupe, deixo este trabalho para os reporteres ou para as vizinhas fofoqueiras, essas sim devem saber tudo sobre a vida desse inseto, mais do que ele próprio sabe sobre si! Visto que notaram o estrondo de sua caimbra, antes mesmo dela acontecer!!!!