Sua entradinha era pequena, mas sofisticada, revestida com papel de parede adornado em formas geométricas pintadas em diferentes tons de cinza, apertados em si, num padrão que se repetia ao discorrer da parede central. Nas laterais, a da esquerda estava preenchida por um vermelho sangue, que parecia vibrar de tão intenso, noutro oposto lembrava um céu noturno sem lua e sem estrelas, quebrando toda aquela palidez cinza da parede central.
A pequena porta de entrada em que parei para observar as paredes lembrou-me cafés no bom estilo inglês, com vidraças quadriculadas e uma pequena escadinha em "L" que levava adentro. O piso era discreto, que nem reparei tanto. A bilheteria era simples e ao seu lado estava instalado um simpático bar, com destaque para a geladeira que era daquelas arredondadas num estilo bem vintage, antiga e vermelha, contrastando com o enegrecer da parede. Naquele curto momento eu era Gustavo, pois meu nome não estava na lista. Isso me deu uma leve tensão em meu pescoço. Se passar por outra pessoa é complicado para alguém, que não sabe mentir.
Entramos, era um picadeiro pequenino, mas aconchegante, ali cabiam no máximo 20 pessoas, era de fato um lugar para poucos, porém, receptível a qualquer um. O espetáculo de hipnose não me surpreendeu tanto, contudo me tirou boas risadas. O que mais me chamou a atenção estava escondido, instalado por de trás das cortinas do palco. Entrar nele era como estar num darkroom, incrível o misticismo que uma cortina pode trazer, ideias eróticas brotavam de meu imaginário, fui longe e custei voltar daquele ambiente em tons escuros onde o destaque estava em pequeninos quadrinhos na parede com molduras barrocas, laqueadas em tons de amarelo, vermelho e azul. Não traziam fotos, mas a estampa do mesmo papel de parede cinza da entrada, ali fiquei um considerável tempo observando, em detalhes.
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